Plano de Aula

A ARTE VISUAL E OS MOVIMENTOS NACIONAIS

Por Longos Dias
30/03/2008
Ensino Médio, Ensino Fundamental - Anos Finais

Marilene Lima
Acesse a ficha do filme



Justiça nós a temos, e não nos atende.
"Direito já nós o temos, e não nos conhece".
"Não necessitamos Caridade".
O que queremos é uma Justiça que se cumpra e
um Direito que nos respeite."
José Saramago - roteiro
O curta trazendo "uma visão poética do Movimento dos Sem Terra e da Marcha Nacional pela Reforma Agrária",
nos faz refletir sobre assuntos tais como: Justiça, Direito e Caridade. Justiça derivada do binômio "crime e castigo" - ainda que o castigo venha por conta de "crimes" de outros direitos e deveres - ainda que alguns vivam suas vidas perseguindo os primeiros e cumprindo os segundos, como se fossem passíveis e tão somente "carentes" de Caridade.


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 Conhecer a história e a geografia dos diferentes grupos de Movimentos Sem Terra

 Despertar sentimentos de empatia e solidariedade aos grupos realmente interessados em terra para trabalhar e arar

 Diferenciar MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra - de 1970) do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto - de 1997)

 Oferecer às crianças e jovens oportunidades de "capturar", por meio do desenho ou da fotografia momentos capitais de sua própria realidade

 Refletir sobre a importância da arte visual como recurso e meio para a tomada de consciência e conhecimento da realidade.

Fases do Trabalho:



1. Apresentação do curta "Por longos dias"

2. Criação de um painel coletivo sobre o entendimento que tiveram acerca do Movimento dos Sem Terra - MST enquanto forma de representação social e superação do status quo à que se erige a realidade brasileira de milhares de trabalhadores sem terra

3. Momento de Fruição e direção do olhar através dos livros de fotografia de Sebastião Salgado, preferencialmente o livro "Terra" (do qual faz parte o texto de José Saramago - prefácio do livro e roteiro do curta)

4. Momento de reflexão: intertextualizar o texto de Saramago ao texto de Vinícius de Moraes "Operário em Construção" (ver anexo 2)

5. Momento de Criação: construção de portfólios fotográficos (ou de desenhos) que sejam a base para a construção coletiva de um blog temático sobre a situação das pessoas sem terra ou sem teto de sua comunidade ou de comunidade próxima à sua

6. Situação Comunicativa: socialização de sua produção e preparação de um Jornal Mural a ser compartilhado com a comunidade através dos murais da escola.




Orientações Didáticas:



Levar os alunos a perceberem a fotografia como o registro de um povo, de uma cultura, de uma época trabalhar em um suporte amplo como o Jornal Mural estudar composição, ocupação do espaço, cores etc. Para trabalhar com a imagem iconográfica deve-se:

1. construir um eixo temporal a partir da seqüência cronológica ou cultural de determinado ser social, grupo social ou região

2. estipular um roteiro de observação para subsidiar o "espectador" em sua tarefa de abstrair ou transmitir informações de/com determinada imagem

3. procurar perceber os "silêncios" nos discursos imagéticos: tais e quais fatos, situações e pessoas são passíveis de registro, quais não são

4. perceber a "lógica pela qual os símbolos se ligam" entendendo a conotação "psicológica" encontrada nas frestas e silêncios

5. tentar estabelecer um novo "sentido" e uma nova "mensagem" através daqueles(as) expressos(as) pelas imagens, buscando fazer uma re-leitura da "leitura" sugerida e compreender a conotação subjetiva da Arte, posto que ao carregar muito do sujeito que a interpreta e analisa, será sempre subjetiva em cada momento histórico/pessoal.




Roteiro: Observando paisagens e moradias de sua localidade


 Há vegetação na paisagem? Quais tipos de vegetação?

 A vegetação é natural ou foi plantada pelo homem?

 Como é o relevo da paisagem?

 Quais acidentes geográficos existem na paisagem?

 Existem mudanças na paisagem provocadas pelo homem?

 Existem terras/casas abandonadas/ desocupadas há muito tempo?

 Como são as moradias?

 Que material é utilizado na construção das casas?

 Como se dá a divisão dos espaços nas moradias?

 Quais utensílios estão presentes na moradia? Qual seu aspecto?




Anexo 1: Fotografia e Discurso Visual (fragmentos)



A fotografia, tal qual a conhecemos hoje, é uma continuidade da Ideologia Renascentista, agora reciclada, adaptada e incorporada à nova Ordem da Sociedade Industrial. Ela nada mais é do que a visualização desse novo discurso: racional, claro, tecnicamente perfeito e instantâneo. Ao invés de ser um "retorno renascentista", a fotografia é, em síntese, a retomada à nova racionalidade da emergente burguesia industrial, a partir de meados do século XIX.



Portanto, os discursos ou sistemas simbólicos elaborados pelos homens para representar o mundo, são sempre ideológicos, pois, longe de constituírem entidades autônomas transparentes, são, em última instância, determinados pelas próprias contradições inerentes à vida social.



O significado do discurso fotográfico é definido por um conjunto de noções oriundas de cada segmento social e as associações dessas imagens estarão diferenciadas em função da maneira que cada grupo a emprega ou atribui o seu valor.



A evolução da linguagem fotográfica está, na realidade, em estreita dependência do seu contexto histórico. Temos, assim, uma relação evidente entre a evolução da linguagem e as condições sociais em que a fotografia, enquanto meio de expressão evolui. O próprio desenvolvimento da sociedade conduz a linguagem por um caminho determinado. Portanto, a história das imagens é reflexo direto da história das civilizações.



A fotografia, antes de mais nada é um documento. Sua linguagem se resume no discurso, na narrativa visual. Seu único propósito é a mensagem, contida na própria imagem ou no simples recado que o fotógrafo quis transmitir. A fotografia fala por si mesma...



E que para tudo isso possa acontecer vamos depender da sensibilidade do seu autor, da sua persistência, do seu olhar, conhecimento técnico, padrão cultural e principalmente do seu trabalho criativo e intelectual.




Fonte:

http://www.virtualphoto.net/artigos/enio06.php



Bibliografia consultada e sugerida:



ARNHEIM, Rudolf. Arte e percepção visual. São Paulo: Pioneira/USP, 1980.



BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Parâmetros Curriculares Nacionais - Arte.

Brasília: MEC, 1996.



GUERRA, Maria Terezinha T. Artes da Luz. In: A ARTE É DE TODOS. São Paulo: CENPEC - Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária, s/d.



GUERRA, M. Terezinha Telles, MARTINS, Mirian Celeste, PICOSQUE, Gisa. Didática do ensino de Arte: a língua do mundo - poetizar, fruir e conhecer arte. São Paulo: FTD, 1998.



SANTOS, Marilene Lima. O trabalho com História e Geografia: Metodologia e Prática de Ensino. São Paulo: Edukaleidos, 2003, mimeo.



O Movimento Sem Terra - MST: http://www.brasilescola.com/sociologia/mst.htm



MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto): http://www.mtst.info/




Anexo 2 - Operário em Construção


Vinícius de Moraes



Era ele que erguia casas

Onde antes só havia chão.

Como um pássaro sem asas

Ele subia com as asas

Que lhe brotavam da mão.

Mas tudo desconhecia

De sua grande missão:

Não sabia, por exemplo,

Que a casa de um homem

é um templo

Um templo sem religião

Como tampouco sabia

Que a casa quer ele fazia

Sendo a sua liberdade

Era a sua escravidão.

De fato como podia

Um operário em construção

Compreender porque um tijolo

Valia mais do que um pão?

Tijolos ele empilhava

Com pá, cimento e esquadria

Quanto ao pão, ele o comia

Mas fosse comer tijolo!

E assim o operário ia

Com suor e com cimento

Erguendo uma casa aqui

Adiante um apartamento

Alem uma igreja, à frente

Um quartel e uma prisão:

Prisão de que sofreria

Não fosse eventualmente

Um operário em construção.

Mas ele desconhecia

Esse fato extraordinário:

Que o operário faz a coisa

E a coisa faz o operário.

De forma que, certo dia

à mesa, ao cortar o pão

O operário foi tomado

De uma súbita emoção

Ao constatar assombrado

Que tudo naquela mesa

- Garrafa, prato, facão

Era ele quem fazia

Ele, um humilde operário

Um operário em construção.

Olhou em torno: gamela

Banco, enxerga, caldeirão

Vidro, parede, janela

Casa, cidade, nação!

Tudo, tudo o que existia

Era ele quem os fazia

Ele, um humilde operário

Um operário que sabia

Exercer a profissão.

Ah, homens de pensamento

Não sabereis nunca o quanto

Aquele humilde operário

Soube naquele momento

Naquela casa vazia

Que ele mesmo levantara

Um mundo novo nascia

De que sequer suspeitava.

O operário emocionado

Olhou sua própria mão

Sua rude mão de operário

De operário em construção

E olhando bem para ela

Teve um segundo a impressão

De que não havia no mundo

Coisa que fosse mais bela.

Foi dentro dessa compreensão

Desse instante solitário

Que, tal sua construção

Cresceu também o operário

Cresceu em alto e profundo

Em largo e no coração

E como tudo que cresce

Ele não cresceu em vão

Pois além do que sabia

- Exercer a profissão -

O operário adquiriu

Uma nova dimensão:

A dimensão da poesia.

E um fato novo se viu

Que a todos admirava:

O que o operário dizia

Outro operário escutava.

E foi assim que o operário

Do edifício em construção

Que sempre dizia "sim"

Começou a dizer "não"

E aprendeu a notar coisas

A que não dava atenção:

Notou que sua marmita

Era o prato do patrão

Que sua cerveja preta

Era o uísque do patrão

Que seu macacão de zuarte

Era o terno do patrão

Que o casebre onde morava

Era a mansão do patrão

Que seus dois pés andarilhos

Eram as rodas do patrão

Que a dureza do seu dia

Era a noite do patrão

Que sua imensa fadiga

Era amiga do patrão.

E o operário disse: Não!

E o operário fez-se forte

Na sua resolução

Como era de se esperar

As bocas da delação

Começaram a dizer coisas

Aos ouvidos do patrão

Mas o patrão nas queria

Nenhuma preocupação.

- "Convençam-no" do contrário

Disse ele sobre o operário

E ao dizer isto sorria.

Dia seguinte o operário

Ao sair da construção

Viu-se súbito cercado

Dos homens da delação

E sofreu por destinado

Sua primeira agressão

Teve seu rosto cuspido

Teve seu braço quebrado

Mas quando foi perguntado

O operário disse: Não!

Em vão sofrera o operário

Sua primeira agressão

Muitas outras seguiram

Muitas outras seguirão

Porem, por imprescindível

Ao edifício em construção

Seu trabalho prosseguia

E todo o seu sofrimento

Misturava-se ao cimento

Da construção que crescia.

Sentindo que a violência

Não dobraria o operário

Um dia tentou o patrão

Dobrá-lo de modo contrario

De sorte que o foi levando

Ao alto da construção

E num momento de tempo

Mostrou-lhe toda a região

E apontando-a ao operário

Fez-lhe esta declaração:

- Dar-te-ei todo esse poder

E a sua satisfação

Porque a mim me foi entregue

E dou-o a quem quiser.

Dou-te tempo de lazer

Dou-te tempo de mulher

Portanto, tudo o que vês

Será teu se me adorares

E, ainda mais, se abandonares

O que te faz dizer não.

Disse e fitou o operário

Que olhava e refletia

Mas o que via o operário

O patrão nunca veria

O operário via casas

E dentro das estruturas

Via coisas, objetos

Produtos, manufaturas.

Via tudo o que fazia

O lucro do seu patrão

E em cada coisa que via

Misteriosamente havia

A marca de sua mão.

E o operário disse: Não!

- Loucura! - gritou o patrão

Não vês o que te dou eu?

- Mentira! - disse o operário

Não podes dar-me o que é meu.

E um grande silêncio se fez

Dentro do seu coração

Um silêncio de martírios

Um silêncio de prisão.

Um silêncio povoado

De pedidos de perdão

Um silêncio apavorado

Com o medo em solidão

Um silêncio de torturas

E gritos de maldição

Um silêncio de fraturas

A se arrastarem no chão

E o operário ouviu a voz

De todos os seus irmãos

Os seus irmãos que morreram

Por outros que viverão

Uma esperança sincera

Cresceu no seu coração

E dentro da tarde mansa

Agigantou-se a razão

De um homem pobre e esquecido

Razão porem que fizera

Em operário construído

O operário em construção.



Fonte: MACHADO, Ana Maria. O tesouro das Virtudes para as crianças. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999, pp. 63-68.



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