A princípio sugeri a professora de biologia que trabalhasse comigo junto aos alunos o filme, pois nossos objetivos iniciais eram:
Reconhecer os tipos de lixo
Identificar os problemas causados pelo lixo
Caracterizar reciclagem do lixo
Desenvolver novos critérios comportamentais que diminuam o índice de lixo urbano
Porém, após a apresentação do filme, a discussão gerada em sala de aula nos fizeram verificar que havia muito a ser trabalhado com eles em relação a condição social, trabalho, consumo e comportamento.
Nesse contexto, nosso projeto foi formulado englobando, além dos objetivos já citados, a pesquisa e o conhecimento das pessoas que vivem de alguma forma do lixo.
O filme proporcionou um desdobramento muito maior do que imaginava, seguindo até o fim do ano.
1.Pesquisa de campo em depósito de lixo: feito com o acompanhamento da professora de biologia que foi explicando sobre os tipos de lixo encontrados e as possíveis doenças que as pessoas que ali estavam, poderiam ter. Entrevistamos os catadores, verificando sua formação educacional e condição de vida atuais.
2. Visita ao SAAE, maquete do aterro sanitário: levei os alunos ao órgão responsável onde foram passadas informações sobre o futuro aterro (local, custos, benefícios, etc)
3. Visita a Cooperativa dos Catadores de Resíduo Seco: pesquisamos condição de vida, renda, formação educacional, rotina e atributos de cada cooperado
4. Pesquisa sobre reciclagem: verificamos todos os tipos de reciclagem possíveis de cada material e os tipos de reaproveitamento feitos em nosso município (da fábrica de vassouras até o artesanato)
5. Curta Ilha das Flores: assistimos novamente o filme e discutimos o que vivenciamos durante a pesquisa e o que era retratado no curta, para chegarmos a um concenso sobre o que apresentaríamos.
6. Montagem de material para exposição:
Relatório em grupo das visitas e pesquisas elaboradas
Apresentaçao Multimidia (Power Point) com fotos das visitas, as reações e a pesquisa sobre reciclagem
Painel de fotos com todas as etapas do projeto, englobando desde a poluição causada pelo lixo em rios e solo, como a condição de vida de cada morador ou profissional.
A apresentação foi feita em uma exposição integrada, utilizando os power points e fazendo enquetes entre os visitantes.
Ao término do projeto, os alunos, além de falarem sobre o interesse em continuar o trabalho, fizeram campanha com os vizinhos da escola para a limpeza do córrego que passa próximo, idealizando um folder para distribuição na comunidade.
O trabalho atingiu mais do que estava sendo esperado.
Além de desenvolver uma maior consciência do aluno sobre o lixo que produz e do reconhecimento do que realmente é ou não é lixo, o trabalho proporcionou uma mudança de pensamento e comportamento por parte de muitos.
O preconceito que havia em relação as pessoas que vivem do lixo foi uma das batalhas vencidas. Muitos olhares mudaram. Os alunos passaram a desenvolver um senso de responsabilidade e de valorização.
A imagem do que seria nosso município sem esses profissionais (garis, catadores, artesãos, etc.)foi de um profundo caos. Os alunos passaram a pensar social e ecologicamente.
Nos relatórios apresentados pelos alunos foi possível ver que a riqueza de detalhes estava presente, que foram instigados a pesquisar continuamente sobre o tema, chegando a organizar-se de forma voluntária para campanha de roupas, brinquedos para as familias dos catadores; buscando variadas formas de reaproveitamento e fazendo questão de levar para a sala de aula os resultados (sem serem solicitados).
Os alunos participaram também da limpeza do córrego e da manutenção da limpeza do colégio, auxiliando na separação e conscientização de outras turmas sobre o tema.
Fomos muito além da simples aprendizagem. Ocorreu a mudança de comportamento, o que comprova que um suporte pedagógico, como foi o curta, se bem aproveitado, pode realmente ajudar a formar opiniões e comportamentos.
Temos algumas fotos do projeto para que comprovam a experiência vivenciada!
A visão que o jovem tem sobre o lixo e sobre as pessoas que nele trabalham é permeada por um certo preconceito e nossa função, como educadores, é de mostrar essa realidade aos nossos educandos, dando-lhes uma visão mais abrangente e realista do que existe "além do lixo".
