Relato de atividade em sala de aula

NENHUM DIREITO A MENOS

Ilha das Flores
29/11/2007
Geografia, História, Língua Portuguesa
Ensino Fundamental - Anos Finais
60
Maria de Fátima da Silva



Objetivou-se, ao trabalhar com o filme"Ilha das flores", levar os alunos a
uma leitura crítica sobre a fome, as diferenças sociais, a pobreza e suas consequências para a sociedade brasileira, bem como, compreender o que se passa em seu entorno social; ajudá-los a superar a compreensão do senso comum, oportunizando momentos de reflexão e problematização; desenvolver a compreensão e um olhar crítico e autônomo da realidade; libertá-los para a conscientização e para a cidadania; despertar neles o "eu protagonista" e o compromisso para a transformação; fazendo valer os seus direitos como seres humanos.

A fome, a miséria e a barbárie das desigualdades sociais tornaram-se assuntos planetários, contudo, antes de levar a verdade nua e crua do documentário "Ilha das flores" aos alunos, fez-se necessário a abordagem da "Declaração Universal dos direitos humanos". Em seguida, propus-lhes que pesquisassem em jornais e revistas imagens e fatos, onde os direitos estivessem garantidos ou não. Foram feitos painéis e debates. Com essa atividade, eu quis fazer uma verificação prévia dos conhecimentos dos alunos sobre o tema. Apresentei-lhes, então, a pintura "Retirantes", de Portinari para análise dos direitos nela desrespeitados.Levei o poema de Manuel Bandeira "O bicho"para leitura e sensibilização.Falei sobre o documentário "Ilha das Flores", questionei o título e a opinião deles sobre o que achavam que íam assistir; perguntei sobre as relações que poderiam ter entre um tomate, um porco e um ser humano na cadeia alimentar.Quando o documentário foi exibido, pedi-lhes para estabelecerem uma relação entre o filme e todos os materiais estudados até então.A primeira comparação foi entre o filme, a pintura de Portinari e o poema de Manuel Bandeira, pedindo-lhes para observarem aspectos em comuns, personagens,ambientes, situações, etc. Foi acrescentado ao trabalho crônicas, charges, músicas sobre o tema. Para finalizar o trabalho, os alunos, em grupos, fizeram estudos de casos diversificados, retirados de revistas e jornais, onde abordavam "situações de pobreza e desigualdades". Cada grupo, apresentou as suas observações e houve um debate muito produtivo com toda a sala de aula,enquanto fiz intervenções com questões do tipo:como vocês avaliam situações como essas? É esse o tipo de vida que desejamos? Qual seria sua contribuição concreta para a transformação social? Que situações podemos modificar? Por que o brasilerio não tem o costume de exigir seus direitos? Por fim, houve uma dramatização de um dos casos estudados, ao som da música: "Que país é esse?"

Ao iniciar a discussão sobre o tema "Fome, miséria e a declaração dos direitos humanos", senti os alunos tímidos e inocentes quanto às suas colocações. Ao pesquisarem em revistas e em jornais, percebi-os muito dependentes de mim; não conseguiam enxergar em que imagens ou fatos os direitos humanos estavam sendo desrespeitados. Ao apresentar-lhes a pintura"Retirantes", de Portinari, notei maior envolvimento e sensibilidade por parte deles; no decorrer das atividades, fui intervindo para que conseguissem ler nas entrelinhas e encontrassem significados entre o que era apresentado e a realidade que os cercava. Ao assistirem ao documentário "Ilha das Flores", sentiram-se indignados. Quando pedi-lhes para para comparar a pintura Retirantes,o poema "O bicho" e o documentário, apegaram-se às palavras do documentário "O homem tem encéfalo (pensa)..."O porco tem dono, não tem encéfalo desenvolvido...", ou seja, não pensa. Lembraram-se da Declaração dos Direitos Humanos e do documentário: "O ser humano não tem dinheiro, nem dono, o ser humano se diferencia do porco por pensar, ser livre e direitos". Concluíram que, apesar de ter a potencialidade de pensar e entender, há crianças e homens que são tratados piores que animais, sem garantia de seus direitos. Há até mesmo uma inversão na cadeia alimentar, como puderam ver: Documentário: Tomate rejeitado pelo homem, rejeitado pelos porcos, alimento apropriado àqueles que vivem numa vida sub-humana. Na pintura: imagens de urubus sobrevoando os seres humanos, como se estivessem à espera de alimentos. No poema: Homem como bicho se apropria daquilo que não serve a outros. Com os "estudos de casos", percebi os alunos mais críticos e independentes. Contextualizavam e comparavam com o que haviam estudado. Durante as apresentações outros grupos pediam a palavra, queriam participar. A transformação em relação ao ponto de partida foi visível! Concluí que esse será o caminho para a transformação da realidade!