A turma que melhor aproveita os Curtas na EE. Fidelino de Figueiredo é a 6ª A. Para se ter uma idéia, um grupo de alunos que formatar um Telejornal na Escola." O Xadrez das Cores" mobilizou a maioria dos alunos que discordaram firmemente da protoganista Myriam Pérsia que trata com descaso a personagem vivida pela atriz Zezé Barbosa. Recolhi uma série de textos sobre este filme incluindo relatos das turmas 6ª E, 7ªs D, E e F. Mas, a reflexão madura é mesmo da 6ªA.Um aluno indagou por que só os negros fazem o trabalho pesado e sujo da sociedade.Outro criticou a ignorância do branco.Um outro ainda
reconheceu que o cinema é o espaço ideal para discutir coisas que saem da rotina da sala de aula e tratam de assuntos mais interessantes.A aula é um filme.
Meu depoimento foge da exclusividade dos Curtas porque sempre exibi filmes em sala de aula. Me preocupa uma metodologia de análise fílmica orientada para o professor e para o aluno. Não tive ainda a capacidade de atrair meus colegas para a importância do cinema na sala de aula, para a percepção do cinema como sala de aula. A tela como território multidisciplinar. Espinhoso e prazeroso.
Dos curtas, "O Xadrez das Cores", provocou reações lúcidas contra o preconceito e o racismo. Um aluno disse que era necessário darmos um Xeque-mate na intolerância. "Ilha das Flores" chocou os alunos. Ver seres humanos aquém dos porcos possibilitou problematizar o "singelo luxo no qual vivem". " Barbosa", me permitiu trabalhar a irreversibilidade do tempo. Cada aula é uma. Aula perdida - sem aproveitamente lúdico e intelectual dela - é um tempo que não se recupera."O Lobisomem e o Coronel" divertiu e serviu para eu mostrar como essa Literatura Popular é rica e sofisticada.Muitos conhecem a dupla Caju e Castanha e se interessaram pelo Cordel.
A fragilidade nisso tudo é que não atuo interdisciplinarmente. Fico um pouco exótico, um professor exibindo filmes, embora o Cinema seja reconhecido como Arte pelo corpo docente. E temos aí os PCNs que oportunizam vôos intelectuais, autorizam audácias criteriosas no sentido pedagógico.
Meu pessimismo é ver que temos recursos e que são desperdiçados por falta de visão do mundo. O professor precisa na sua maioria entrar no mundo cinema, no mundo arte, no mundo da cultura e perceber que o quadro negro é a tela de cinema, a história em quadrinhos, a tela do PC e a do celular, o out-door e a camiseta no silk-screen, a tatuagem e o video-game. Ensinar sem uma visão crítica da cultura audiovisual ou ignorar as múltiplas mídias é nadar contra a corrente.
Há alunos dificeis, ruins. E professores piores. A sala de aula do Século XXI é Audiovisual. Até cego vê!
Meu trabalho com cinema na sala de aula antecede a experiência com os curtas. Com os curtas tivemos uma experiência rica da síntese, de contar uma história com o mínimo, explorando o máximo do plano, da sequência, do corte. Essas noções, trabalho com os alunos no Salão do Fidelino de Figueiredo.
Heresia. Exibi trechos do Matrix e do Terminator II para discutir a Revolução Industrial e os desdobramentos dela. Problematizando o que chamamos agora de 3ª RI, a Nanotecnologia. Utilizei estes filmes para falar de ética e tecnologia, sociedade e trabalho, futuro e catástrofe, modernidade e teologia.
Os resultados obtidos são mínimos, precários. Um aluna da 7ª E, indisciplinada, escreveu 6 linhas dizendo que era preciso melhorar o comportamento para vermos mais filmes e termos aulas melhores. Escreveu o mesmo - com erros gramaticais - que os melhores alunos. Tenho isso em mãos para documentar.
Usando os curtas discutimos telenovelas, músicas, filmes, expectativas dos alunos. Muitos nunca foram numa sala de cinema. Entender o cinema como aliado do conhecimento e elemento indispensável para melhorarmos o Ensino no Brasil vai demorar. Película indigesta. Mas, os alunos são aliados da Escola. É só confiar neles, crer neles, apostar neles, e reavaliar o que podemos ensinar ou interagir nessa sociedade onde tudo corre em múltiplas direções.
Penso particularmente que o Cinema deve conduzir as reflexões no campo Pedagógico. Os grandes educadores são Chaplin, Rossellini, Kurosawa, Nelson Pereira dos Santos, Orson Welles, Joaquim Pedro de Andrade, D.W.Griffith, Buster Keaton, Oscarito e Grande Otelo, Zezé Macedo e David Cronenbeg. David Lynch e Harold Lloyd. Fritz Lang e João Moreira Salles, Eduardo Coutinho e Luiz Rosemberg, Dziga-Vertov e José Padilha.
A riqueza e a problematização da sociedade e da cultura destes cineastas subvertem o ensino para melhor. Sem falarmos em Eisenstein e Glauber Rocha!