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Relato de atividade em sala de aula

O POVOADO QUE ACHOU A MEMÓRIA

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08/12/2009
Língua Portuguesa, História
Ensino Fundamental - Anos Finais
35
Valéria Cristina Ribeiro Perei





Articulado ao projeto "Memória e Linguagem", desenvolvido neste ano, na E.M.Dr.Pedro Marques - JF/MG, objetivamos:
- Perceber as diferentes formas de utilização das linguagens, no intuito de construir, preservar e até encontrar uma memória "perdida";
- Perceber a importância das palavras usadas para nomear principalmente pessoas;
- Perceber a extrapolação do signo lingüístico e a contribuição de outros signos contidos nas metáforas da imagem, dotados de igual relevância no papel de construção da memória;
- Perceber a contribuição da palavra oralizada ou escrita, usada em forma de narrativa e seu papel na organização do passado e, conseqüentemente, do percurso de construção da memória;
- Pensar na força da narrativa, enquanto modalidade discursiva capaz de criar "verdades ou mentiras".

Fizemos um "círculo de leitura" e conversamos sobre os nomes falados no curta e as relações com santos e personalidades. Passamos às histórias dos nomes dos estudantes e seguimos para o título. Pensamos sobre a expressão "perder a memória" e as possibilidades semânticas, mais imediatas- doença que afeta a memória, perda das lembranças de um indivíduo. Depois, refletimos sobre os desdobramentos, numa dimensão histórica, alcançando a idéia de que a memória coletiva é um patrimônio. Chegamos à perda gerada pela falta de conversa, pela desvalorização do idoso, ou da herança de outras gerações. Antes, foi pedido aos alunos que levassem,para esta atividade, alguns objetos guardados nos seus afetos. Nós, professoras, levamos um pequeno baú, vazio. Criamos uma situação similar à do filme, concretizando a metáfora de preservação da memória, como a da personagem Cristina, ao entregar a Antônio alguns objetos.Cada estudante falou sobre o seu objeto. Construímos analogias entre os objetos e os fatos guardados na lembrança de cada um: nossas "coisas", nossas memórias. A partir de certo ponto, juntariam-se a outras, formando a memória coletiva, momento representado pela ação dos estudantes, ao colocar alguns dos objetos no baú maior. Depois disso, fomos retirando um a um e narramos a construção da memória coletiva que havíamos juntado. Explicitamos a relevância da organização da seqüência de fatos, ao narrar as nossas histórias; mostramos a linguagem como suporte para a sedimentação dos acontecimentos. Exploramos, também, as diferentes versões narradas por Dona Cristina e pensamos sobre as conseqüências desse tipo de texto, que podem levar quem ouve a crenças falsas,apesar de não ser o caso do filme; em outras situações, mudar a versão dos fatos, a colocação das palavras, a ordem dos eventos, pode nos fazer passar de uma narrativa mais "real" a uma "mentirosa". Pedimos aos alunos que registrassem suas impressões sobre a atividade, através de uma produção de texto.

Como esta atividade fazia parte de um projeto interdisciplinar maior, os alunos mostraram disposição para se envolver. Registramos que, conforme é comum à idade deles, o primeiro tombo do personagem Antônio, na ponte, foi motivo de risadas, diluídas à medida que o filme causava outras percepções. Com relação às histórias dos nomes de cada um, parte dos alunos desconhecia o motivo de serem chamados por seus nomes, mas muitos deles conheciam os motivos das escolhas, feitas por pais, mães e parentes: nomes dados por causa de princesas, como Daiana; de reis, como Artur; outros aglutinavam nomes de parentes. Todos gostaram muito de conversar sobre a família. Sobre o título, comentaram a importância da conversa com pessoas idosas: "perder a memória era perder o significado das coisas". Acrescentaram sua experiência de entrevistas com pessoas idosas do povoado. Ao narrarem as histórias dos objetos levados, houve descontração e comentários sobre o gosto por conhecer melhor os companheiros de escola. Algo inusitado aconteceu, quando um dos alunos observou um estudante que puxava, das mãos da colega, uma almofada, em forma de coração. O aluno comentou que "o colega queria pegar o coração da menina à força". Todos riram muito. Sobre imagens e sons, os estudantes mencionaram o aparecimento do patinho de madeira, mostrando "o tempo que estava correndo, com o barulho que lembrava um relógio com seu tic-tac". Comentaram a entrega, a Antônio, da ponte de madeira, feita por Dona Cristina, dizendo se tratar "da ligação entre o passado e o hoje". Finalmente, comentaram que narrativas falsas estão em muitos lugares e citaram a "fofoca, como o tipo de história mentirosa que pode prejudicar muito a vida de uma pessoa". Nas produções de texto, registramos a percepção de valores e atitudes considerados importantes: "honestidade, boa convivência, troca de experiência" e outros. Houve, também, a afirmação de que "a nossa memória é o nosso tesouro".