Relato de atividade em sala de aula

DOIS LADOS DA MOEDA: AS FACES DA AGRICULTURA NO MATO GROSSO

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Agricultura
03/11/2024
Língua Portuguesa
Pensamento científico, crítico e criativo
Ensino Médio
7
Sanny Kellen Anjos Cavalcante Canuto
EE SAO JOSE DO RIO CLARO | MT | São José do Rio Claro | Estadual





O Estado de Mato Grosso se consolidou como líder nacional na produção agrícola em 2022, conforme dados do Ministério da Agricultura e Pecuária, atualizados em 2024. Esse destaque no setor agropecuário reflete tanto as condições naturais favoráveis quanto o uso de tecnologia de ponta, especialmente em sistemas de produção integrados que visam aumentar a eficiência e a sustentabilidade da agricultura local. Diante desse cenário, apresentou-se aos alunos do terceiro ano do Ensino Médio da Escola Estadual de Tempo Integral São José do Rio Claro, situada no município de mesmo nome, uma visão aprofundada sobre as diferentes facetas do agronegócio e da agricultura familiar, a fim de ampliar a compreensão deles sobre o setor.

Por meio da produção visual intitulada Agricultura, parte da série Brasil 2050 e disponível na plataforma do projeto Curta! ENEM, buscou-se oferecer uma análise crítica e multifacetada do setor agropecuário brasileiro, abordando tanto o papel dos grandes produtores quanto a realidade dos pequenos agricultores, ou permacultores, que adotam práticas agrícolas sustentáveis e alternativas. Esse enfoque permitiu que os estudantes compreendessem as particularidades do sistema de integração, que combina agricultura, pecuária e até florestas em um ciclo produtivo sustentável, minimizando impactos ambientais e aumentando a produtividade.

Para muitos desses alunos, que têm uma ligação direta com o mundo do agronegócio e frequentemente acreditam conhecer bem essa realidade, explorar temas como a permacultura, que valoriza a biodiversidade e a recuperação do solo, representa uma nova maneira de entender as possibilidades da agricultura. Essa abordagem não só despertou um olhar crítico sobre as práticas convencionais, mas também os desafiou a refletir sobre as implicações sociais e ambientais do modelo de produção predominante. Em um momento crucial de suas vidas acadêmicas, quando se preparam para o ENEM – Exame Nacional do Ensino Médio –, mostrar essa outra realidade, visou enriquecer o repertório cultural e argumentativo dos estudantes, como contempla a habilidade EM13LP05, a fim de incentivá-los a enxergar o setor agropecuário para além dos estereótipos e considerando os desafios e as inovações que moldam o futuro da agricultura no Brasil.


Atividade: Seja o Palestrante

Antes de projetarmos o filme, realizamos uma conversa introdutória e instrutiva sobre as especificidades da atividade. Expliquei aos estudantes como funciona o gênero conferência, destacando seu uso frequente na comunidade acadêmica. Em seguida, os alunos foram orientados a tomar nota dos pontos que mais lhes chamassem a atenção durante a sessão.

Após assistirem à produção audiovisual, organizamos a sala em semicírculo e realizamos uma roda de conversa, em que os alunos puderam expor os aspectos que consideraram mais relevantes, defendendo seus pontos de vista. Como em uma conferência, a professora atuou como mediadora das falas. Ao final das apresentações, tivemos um momento de debate, em que cada aluno pôde compartilhar suas interpretações e percepções sobre o tema. Esse momento foi fundamental para instigar o pensamento crítico dos estudantes, incentivando-os a refletir, defender e, se necessário, refutar suas próprias concepções e as dos colegas, exercitando assim a capacidade de argumentação e análise crítica. Como já estávamos exercitando a escrita para a feitura da redação no ENEM, propus que eles redigissem um texto dissertativo-argumentativo de até 30 linhas que contemplasse o tema discutido, tomando como base a produção visual assistida e demais textos que achassem relevantes para entregar na aula seguinte.

 Diante disso, pudemos também contemplar o que propõe a habilidade EM13LP28: organizar situações de estudo e utilizar procedimentos e estratégias de leitura adequados aos objetivos e à natureza do conhecimento em questão. Ou seja, a apresentação dos gêneros textuais conferência e roda de conversa foi relevante para incentivar os alunos a explorarem outras formas de textualidade, ampliando, assim, seus repertórios organizacionais para atividades futuras, tanto em atividades escolares como em atividades extraclasse. 


Os alunos que participaram da atividade apresentaram resultados satisfatórios e demonstraram contentamento com o formato da aula. Havíamos trabalhado anteriormente com textos científicos em suas várias formas, incluindo a multimodalidade. No entanto, ao abordar a temática "agricultura" em um contexto que retratava o Estado de Mato Grosso, criou-se uma sensação de pertencimento nos alunos, uma vez que se trata do universo no qual estão inseridos. Esse sentimento foi reforçado especialmente pela discussão sobre "permacultura", uma prática que alguns alunos vivenciam em casa, pois trabalham nesse modelo de agricultura com seus pais, que são pequenos produtores, embora muitos desconhecessem o termo.

Durante a atividade, os alunos discutiram temas como permacultura, produção agroecológica, diversidade como fonte de estabilidade e sistemas integrados, o que os levou a refletir de maneira mais ampla sobre o solo e os animais. Entre os vários pontos levantados, um em especial causou controvérsia, incentivando o desenvolvimento do pensamento crítico dos alunos. Aos 10 minutos e 36 segundos da projeção, Roberto Araújo, diretor-presidente da Fundação Espaço ECO-BASF, enfatiza que o produtor rural precisa dominar conhecimentos de gestão, controle de gastos e investimentos, além de entender tópicos complexos da ciência, como a química e a física do solo. Os alunos concordaram que esse tipo de conhecimento é essencial para os produtores rurais, mas ressaltaram a dificuldade de acesso que muitos pequenos produtores enfrentam, tanto para adquirir esse conhecimento quanto para contratar profissionais especializados. A partir de suas próprias experiências, os alunos puderam questionar criticamente a realidade apresentada no vídeo.

Do ponto de vista acadêmico, a atividade apresentou diversos pontos positivos. Ela proporcionou aos alunos um sentimento de pertencimento, fundamental para a construção identitária, e incentivou o desenvolvimento dos sentidos crítico e argumentativo, ampliando seus horizontes em relação ao tema abordado. Além disso, os estudantes atuaram como protagonistas do processo de aprendizagem, alinhando-se com uma das premissas centrais da escola de tempo integral.