De acordo com estimativas da Organização das Nações Unidas - ONU, no Brasil, aproximadamente 10% da população é constituída por pessoas que possuem algum tipo de deficiência (física, sensorial ou mental), ou seja quase 20 milhões de pessoas.Em virtude de suas deficiências, estas pessoas têm dificuldades ou são impedidas, total ou parcialmente, de realizarem uma série de atividades como estudar, trabalhar, participar de atividades culturais, esportivas etc.
Segundo Maria Regina Cazzaniga Maciel, em seu artigo "Portadores de deficiência a questão da inclusão social", o processo de exclusão social de pessoas com deficiência ou alguma necessidade especial é tão antigo quanto a socialização do homem, uma vez que, a estrutura das sociedades, desde os seus primórdios, sempre inabilitou os portadores de deficiência, marginalizando-os e privando-os de liberdade. Essas pessoas, sem respeito, sem atendimento, sem direitos, sempre foram alvo de atitudes preconceituosas e ações impiedosas.
A literatura clássica e a história do homem refletem esse pensar discriminatório, pois é mais fácil prestar atenção aos impedimentos e às aparências do que aos potenciais e capacidades de tais pessoas.
Nos últimos anos temos visto, porém, que estão sendo desenvolvidas ações que visam promover e implementar a inclusão de pessoas com deficiência ou necessidade especial. Essas atitudes pretendem resgatar a dignidade, o respeito além de possibilitar o pleno desenvolvimento e o acesso a todos os recursos da sociedade por parte desse segmento.
A Organização dos Estados Americanos - ONU, em seu Programa de Ação Mundial Relativo às Pessoas com Deficiência, declara que é preciso proporcionar a equiparação de oportunidades que é "o processo através do qual o sistema geral da sociedade, tais como os ambientes físicos e culturais, a moradia e o transporte, os serviços sociais e de saúde, as oportunidades educacionais e de trabalho, a vida cultural e social, incluindo as instalações esportivas e recreativas, é tornado acessível para todos".
Diante deste conjunto de iniciativas, projetos, trabalhos e políticas públicas, podemos dizer que os preconceitos em relação às deficiências ainda estão muito presentes na nossa sociedade porém,
é certo, que uma nova postura diante dos cidadãos com deficiência está sendo gradativamente sendo assimilada pela sociedade.
O documentário de curta-metragem "A pessoa é para o que nasce" apresenta a história de três irmãs cegas que vivem em Campina Grande, no Estado da Paraíba, e que em troca de esmola cantam para os transeuntes.
Durante o documentário elas vão discutindo questões como a ausência que provoca excesso e a experiência de vida através da falta e levam o espectador a repensar o compromisso que as três irmãs cegas tem com a sobrevivência.
Em um dos diálogos do curta elas afirmam: "Quando eu tô sonhando, eu vejo tudinho as coisas. A gente vê tanta coisa...Tanta coisa bonita... As nuvens, as estrelas, os mato verde, assim ... a pessoa pensa que é mesmo... Mas é sonhando... Aí quando você acorda... Ai meu Deus!!...É por isso que o povo diz que tem a hora do cego ver. É quando ele está sonhando."
É a diferença, a discriminação, a busca por inclusão que pretendemos discutir nesta seqüência didática. Para que o professor possa fazer isso de forma a integrar a pesquisa com o texto, a imagem e o som, bem como aproximar a produção de fragmentos da realidade, do dia-a-dia, propomos trabalhar a elaboração de um vídeo documentário que poderá ser produzido com câmera de fotografia digital ou de filmagem, ou ainda com a utilização de recursos dos celulares.
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Discutir, a partir da história do curta: "A pessoa é para o que nasce" , questões que envolvam a discriminação e a inclusão social de pessoas portadoras de necessidade especiais, o mercado de trabalho para esse grupo, o preconceito, a atitude de cada aluno em relação aos portadores de deficiências etc
Pesquisar ações que fazemos no nosso dia-a-dia e que são discriminatórias e aquelas que são inclusivas
Desenvolver a criatividade com a concepção, produção e edição de um vídeo documentário
Desenvolver a expressão escrita ao exercitar a elaboração dos roteiros
Desenvolver o trabalho colaborativo
Diversificar a aprendizagem através das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC).
O trabalho tem início com uma pesquisa prévia, que será realizada pelos alunos em jornais, livros, revistas e Internet sobre os seguintes temas: inclusão social, escola inclusiva, preconceito em relação à deficiência, ações de inclusão de pessoas com necessidades especiais e as dificuldades que essas pessoas passam, muitas vezes, porque não têm acesso à formação e com isso não conseguem emprego etc. O objetivo deste levantamento é fazer com que o aluno comece a compreender a importância da mudança de atitude diante dos diferentes e passe a tratar os portadores de deficiências como pessoas que merecem respeito,cujas necessidades têm que ser levadas em conta em quaisquer situações.
Na seqüência os alunos terão a apresentação do curta "A Pessoa é para o que nasce". Ao final do filme o professor poderá pegar um trecho dos diálogos para dar início ao debate como:
" -Já nascemos cegas de nascência já, tudinho.
- Sim, é mais difícil, porque tudo é pelos outros, os outros é quem toma conta, nós mora numa casa três só, três ceguinhas tudo numa casa só.
- Aí vamos vivendo assim.
- Um dia tem, outro dia não tem
- Um dia tem, outro dia não tem
- Na quarta não tem
- Nem tem na quinta
- Nem tem na sexta
- Porque não tem coisa mais ruim do que uma pessoa ficar assim, com uma bacia na mão, esperando, implorando a um e a outro.
- Um dá, o outro não dá
- Se um já dá com gosto, o outro já dá com raiva."
A partir desta seqüência e do resultado do debate o professor deve dividir a turma em grupos para que cada conjunto monte um vídeo com uma história sobre o tema da inclusão. Para isso será necessária uma pesquisa e depois a elaboração de um roteiro. Com esses elementos em mãos, o grupo irá mergulhar na produção do vídeo documentário que irá exigir não apenas boas histórias, mas também a captação de imagens "fortes". Feito isso o grupo partirá para a edição e terão que fazer uso de música e de outros efeitos sonoros..
A seguir apresentamos as etapas para a criação do vídeo documentário e damos algumas dicas para a elaboração de um programa radiofônico.
Pesquisar
Como o trabalho visa uma releitura do tema, ou seja, a partir do que foi apresentado e discutido, a atividade propõe buscar novas histórias que mostrem a vida de pessoas portadoras de necessidades especiais e assim o aluno deverá dividir a pesquisa em duas partes:
Pesquisa documental - levantar dados e informações sobre os tipos de deficiências, direitos e deveres desse conjunto de pessoas entre outros.
Pesquisa de campo - o grupo irá procurar em sua comunidade pessoas que tenham necessidades especiais e que queiram compartilhar suas histórias. Aqui também podem ter como participante os personagens familiares, enfermeiros, agentes sociais e pessoas que direta ou indiretamente estão envolvidos com o tema.
Equipamentos
Câmera de vídeo ou câmera fotográfica ou ainda celular com recurso de captação de som e/ou imagem
Microfone
Computador com programa de captação de imagem e de edição digital (existem vários programas gratuitos na internet)
Aparelho de som
Para se produzir um vídeo
A produção de um vídeo documentário pode ser dividida em cinco etapas que são: criação e planejamento roteiro produção gravação edição e finalização.
A Criação e o Planejamento - é nessa fase que os alunos farão o levantamento dos recursos disponíveis e do que será necessário para ilustrar o assunto tais como fotos, pinturas, documentos, imagens em movimento de arquivo, entrevistas produzidas pelo grupo etc. É muito importante determinar o que queremos do nosso documentário e o que vai ser dito. As tarefas dentro desta etapa são:
Definir o tema e qual será a abordagem
Realizar uma pesquisa sobre o assunto em diversas fontes
Escolher a técnica que será utilizada no trabalho (animação, gravação de imagens, entrevista etc.).
Roteiro - É a forma escrita de qualquer produto audiovisual onde temos a descrição objetiva das seqüências, diálogos e também as indicações técnicas.
É na etapa do roteiro que teremos que definir se o documentário terá ou não um apresentador ou narrador, uma voz em off (quando a pessoa não aparece), onde e quando utilizaremos as entrevista ou colocaremos as fotos etc.
As tarefas dentro desta etapa são:
Escrever o roteiro
Revisar o roteiro
Criar um storyboard (Planejamento quadro a quadro do que será filmado e quais recursos serão necessários).
Dica:
O roteiro deve ser composto por frases curtas e na ordem direta
Devemos evitar adjetivos e frases longas pois, quanto mais objetivo, direto e claro for o texto, melhor será o entendimento por parte do espectador.
Produção: é fase em que decidimos as funções dos membros da equipe, pois, a partir desse momento, teremos que procurar os elementos que irão preencher o roteiro. Poderíamos dizer que é a hora de montar o quebra cabeça.
Gravação: Acontece depois que todo o roteiro estiver idealizado. Nesse momento todos os elementos são providenciados, desde se iremos ou não usar o microfone até o vasinho de planta que estará sobre a mesa durante a gravação.
Edição e finalização: é a última etapa do processo e é nela que será feita a costura geral do vídeo. Dividimos o material em cenas (fazemos a decupagem) e depois unimos todos os elementos para compor o todo do vídeo.
Software para edição: Existem muitos softwares para edição de vídeo (inclusive gratuitos como o Cinelerra). O Windows Movie Maker é uma aplicação simples de edição de vídeo que faz parte do pacote do sistema operativo Windows XP. Com ele é possível importar segmentos de vídeo, analógicos ou digitais, cortá-los, ordená-los, acrescentar legendas, transições e outros efeitos e, no final, gravar em um arquivo digital que pode ser gravado no computador, CD ou DVD e que depois pode ser publicado na Internet em site como o do Youtube, Videolog, ou algum outro provedor gratuito.
Material pesquisado:
Artigo:
Maciel Maria Regina Cazzaniga, "Portadores de Deficiência - a questão da inclusão social". Perspectiva, vol.14 no.2, São Paulo, abril/junho 2000.
Para saber mais sobre o assunto
Martin, Marcel A. Linguagem Cinematográfica, Ed. Brasiliense, 1990
Apostila do Movie Maker http://www.apostilando.com/download.php?cod=457
Museu da Pessoa http://www.museudapessoa.net/oquee/