As relações raciais no Brasil são marcadas por contradições. Ao mesmo tempo em que parcelas significativas da população negra se encontram em situações de desvantagem, no quadro de desigualdade social, o racismo é negado oficialmente e também pelo senso comum. Em muitos casos, evoca-se a mestiçagem do povo brasileiro como fator de unidade e ausência de conflito. No entanto, há práticas veladas de racismo, como o requisito de "boa aparência" para a conquista de um emprego, que escondem um padrão de beleza branco, ou a associação do negro às funções que requerem menos qualificação profissional.
Esse racismo velado se reflete também no sistema educativo.
A crença de que vivemos em um paraíso racial, sem conflitos, muitas vezes, impede que o assunto seja tratado em sala de aula, como se ao tocar no assunto estivéssemos criando o preconceito. As atitudes preconceituosas inscrevem-se no plano da invisibilidade da questão para amplos setores da sociedade.
Preconceito e discriminação são crimes. Talvez, seja este um dos primeiros passos rumo a uma mudança de mentalidade e atitude. Mas apenas leis, externas ao sujeito e tendo seu cumprimento subordinado ao poder coercitivo do Estado, não garantem mudança de atitudes. Tal mudança implica numa ação formativa de âmbito moral através da qual é o próprio sujeito quem se auto-obriga ao cumprimento das normas tendo por base seus valores e sentimentos morais.
A formação moral torna-se, dessa maneira, fundamental para que os direitos sejam de fato reconhecidos e respeitados. A constituição de um sujeito moral
é função também da escola e depende do enfrentamento das situações de conflito surgidas na escola e também em contextos externos à sala de aula.
Tomar a palavra a partir da discussão e do enfrentamento de problemáticas cotidianas possibilita a análise do problema, a sua discussão, a percepção de que há diferentes formas de enfrentá-lo.
Permite, também a descoberta dos próprios sentimentos e dos sentimentos dos outros envolvidos.
Uma ação educativa baseada pautada por tal disposição exigirá dos alunos um raciocínio sobre a problemática que surge das relações interpessoais e sobre as emoções associadas a tal problemática. Tal aprendizagem dependerá da descentração do próprio ponto de vista, para que se possa contemplar simultaneamente pontos de vista diferentes.
O filme aborda a questão do conflito racial presente em nossa sociedade, explicitando os sentimentos dos atores envolvidos e propiciando uma reflexão crítica acerca da discriminação racial. Nossa presente proposta pretende uma ação educativa cujo objetivo central é o desenvolvimento do sujeito moral.
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Objetivos Gerais
desenvolver a capacidade de compreensão crítica da realidade
adquirir sensibilidade para perceber os próprios valores e sentimentos e utiliza-los criticamente enquanto procedimentos de educação moral
estimular a capacidade dialógica, a tolerância e a participação democrática
reconhecer e assimilar valores morais que podemos entender como universalmente desejáveis
conhecer informações relacionadas à problemática apresentada que possam ter relevância para explicitar valores.
Objetivos Específicos
estimular a participação de todos os alunos alunas, expressando suas opiniões e sentimentos
discutir o preconceito e a discriminação racial em nossa sociedade
através da problemática abordada pelo filme desenvolver conteúdos curriculares específicos em cada área de conhecimento.
Discussão em grupo:
Os alunos e alunas são convidados a expressarem sua compreensão acerca do filme e da problemática abordada. Sugerimos algumas questões, para conduzir a discussão em grupo, que têm como objetivo a reflexão sobre o tema da discriminação, levando os discentes a perceber os valores envolvidos na questão.
Sugestão de perguntas para direcionar a discussão:
- A situação vivida pela empregada, é algo que vocês apreciam?
- O que vocês sentiram diante do tratamento que a patroa dispensava à empregada?
- Por que a patroa tratava a empregada daquela forma?
- O que a patroa sentia diante do fato de ter uma empregada negra?
- Como a empregada se sentia diante dos comentários e atitudes da patroa?
- O que você achou da reação da empregada?
- O que você faria se estivesse no lugar da empregada?
- O que você considera positivo na atitude da empregada e da patroa?
A partir das opiniões emitidas propor uma reflexão sobre os valores envolvidos na situação retratada pelo filme.
Levantamento de situações semelhantes vivenciadas pelos alunos e alunas
Propor uma atividade escrita na qual os alunos e alunas relatem uma situação semelhante à descrita no filme. Os alunos que se sentirem à vontade podem ler sua redação para os colegas.
Pesquisa sobre a situação do negro no Brasil
Buscar na mídia e em órgãos oficiais, IBGE, por exemplo, informações sobre a situação do negro no Brasil: indicadores sociais (nível de escolaridade, condições de moradia) e econômicos (ocupações, nível de renda).
Discussão sobre os direitos dos cidadãos
A partir dos dados e informações obtidos, discutir os direitos de cidadania e a igualdade em relação ao gozo dos mesmos.
Projeto envolvendo diferentes disciplinas
Após a discussão, fazer um levantamento com os alunos e alunas sobre as perguntas que gostariam de ver respondidas relacionadas ao tema. Por exemplo, podem surgir questões como: "Por que os negros ganham menos?" - "Por que os negros estudam menos que os brancos?" - "Como começou o preconceito no Brasil ?"
Partindo das questões eleitas pelo grupo elaborar um planejamento pedagógico que possa contemplar os conteúdos específicos de cada disciplina na resposta à questão proposta.
Assim, em história poderia ser estudado o período da escravidão. Em matemática porcentagem. A idéia é que os conteúdos escolares possam ser desenvolvidos a partir de uma temática relevante, respondendo às dúvidas nascidas das discussões em grupo.
Indicações Bibliográficas
ARAÚJO, Ulisses F. (2003). Temas Transversais e Estratégia de Projetos. São Paulo: Moderna.
BUARQUE DE HOLANDA, Sergio (1995). Raízes do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras.
CORTINA, Adela (2003). O Fazer Ético: guia para a educação moral. São Paulo: Moderna.
SCHILLING, Flávia (2004b). A multidimensionalidade da violência. In CARVALHO, José Sérgio (org.). Educação, cidadania e direitos humanos.Petrópolis: RJ: Vozes. SERRANO, Gloria P. (2002). Educação em Valores: como educar para a democracia. Porto Alegre: Artmed.
PUIG, Josep Maria (1998). Ética e Valores: métodos para um ensino transversal. São Paulo: Casa do Psicólogo.